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Em tempos modernos, dança do ventre resgata autoestima feminina
Título: Em tempos modernos, dança do ventre resgata autoestima feminina
Autor(a): Samantha Silva
Data: 09/12/2012
Descrição: Excelente matéria sobre a dança do ventre. Aborda temas como os movimentos da dança, autoestima, sensualidade, preconceito,
padrões físicos, efeitos sobre o corpo, etc. Traz ainda uma entrevista com a bela Mahaila El Helwa.
Comentários: Texto fundamentado em entrevistas com profissionais da dança do ventre. Lança luz sobre um tema pouco abordado, que é a influência da dança do ventre na geração de hormônios, fato esse, que segundo a entrevistada, desqualificaria essa modalidade de dança para crianças (isso vai contra o que a maioria das profissionais da dança afirmam).
Estatística: 21 parágrafos, 119 linhas, 1441 palavras
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Pode-se dizer que a dança do ventre une todas as características que formam a “mulher-modelo” da atualidade: independência, feminilidade, sensualidade, força e persistência. Longe de ser uma dança para mulheres de corpo perfeito e vida tranquila, executar os famosos movimentos com os quadris trabalha a autoestima feminina, a flexibilidade corporal e acalma a mente agitada dos dias de hoje. Nos últimos cinco anos, a dança oriental tem se espalhado pelo Sul de Minas, quebrando tabus que ligam a modalidade à vulgaridade e tornando mulheres mais felizes consigo mesmas.
A técnica da dança, basicamente, é a dissociação dos quadris, em que você trabalha e vai soltando as articulações. “Os movimentos de dança são movimentos ondulatórios, que cabem perfeitamente na linha arredondada do corpo feminino”, explica a professora de dança do ventre Ellen Cristina dos Reis Vilela. Ela estuda a modalidade desde 2002 e resolveu abrir uma academia em Varginha (MG) para ensinar a dança em 2007. Foi a
A dança sempre gerou muita polêmica e receio por parte da sociedade por ser conhecida por seu alto teor de sensualidade. “No começo foi muito difícil, iniciar a academia aqui”, conta a professora. Por 10 anos, Ellen foi protética e viajava para Três Corações (MG) para fazer próteses dentárias e voltava para dar aulas de dança.
“A prótese que financiou meus cursos de dança em São Paulo (risos). Aí eu ia lá (em Três Corações), fazia minhas dentaduras, voltava e ensinava dança. A prótese que acabou financiando meu sonho de viver da arte”, lembra. Desde o ano passado, ela consegue viver somente das aulas de dança.
Aprendendo a “serpentear”
O conjunto de roupas tradicional da dança é um sutiã enfeitado com pedras e lantejoulas, uma saia comprida, porém aberta nas pernas e um cinturão também todo enfeitado com penduricalhos. Cores, muitas, e em tonalidades fortes. A barriga fica de fora, e os enfeites do cinturão evidenciam os movimentos executados pelos quadris das dançarinas. Como uma serpente “rebolando” e se chacoalhando, as dançarinas são conhecidas por conquistar corações com olhares fortes e movimentos delicados e femininos.
“O mais importante é aceitar a sensualidade. As mulheres tem vergonha de serem sensuais! Mas a sensualidade é muito diferente da vulgaridade”, afirma Ellen. Segundo ela, a maioria das mulheres busca as aulas para fazer uma atividade física, para desestressar e porque se sentem atraídas pela beleza da dança. “A maioria acha lindo, maravilhoso, e aí quer fazer. Tem também quem vem porque quer seduzir o marido”, ri a professora.
“Não é uma dança fácil. Primeiro tem que soltar os quadris, fazer os exercícios, e aí a aluna tem que ter paciência, persistência, pra poder conseguir fazer”, explica. Apesar disso, ela diz que, persistindo, todas conseguem fazer. Em todos os anos em que ela ministrou as aulas, ela só teve uma aluna que realmente não conseguiu aprender a dança. “Ela tinha sérios problemas de coordenação. Ela tentou e realmente não conseguiu”, conta.
Daiana Lima, de 27 anos, é uma das mais recentes alunas da Ellen e afirma que sempre quis fazer a dança, mas só agora tomou coragem e começou a aprender. “É uma dança elegante, bonita. No começo é difícil, mas o que acho mais difícil é a postura”, diz. Por falar em postura, Ellen responde um tabu que envolve a dança, de que praticá-la daria barriga. “Não, não dá barriga. O que dá barriga é comer X-tudo e dormir (risos). Na verdade, o que dá barriga é a postura errada. Se você dançar fora da postura correta, vai dar barriga, não só dança do ventre como qualquer outra atividade que você fizer na postura errada”, explica ela.
A professora também destaca que a sensualidade não tem nada a ver com tipo físico ou padrões de beleza. Gordinhas, magérrimas, baixinhas, altas, todas praticam a dança e vê-las deslizando no palco é sempre admirável. “O que eu acho mais interessante é a mulher descobrir a sua verdadeira beleza, ela passa a se gostar mais, independente dos padrões de beleza que estão na sociedade: magra, alta, nova. Quem começa a dançar, começa a se gostar”, afirma. "Faço questão de que todas se apresentem e vençam seus receios", conclui.
Benefícios
A prática da dança do ventre, além de ser mais uma forma de perder alguns quilinhos a mais, também traz alguns benefícios ligados à principal parte do corpo trabalhada durante os movimentos, ou seja, a movimentação na região do ventre. “É uma massagem para os órgãos internos, útero, ovários, intestino, vai massageando, vai ondulando, vai trabalhando todas essa linha”, diz Ellen.
Segundo a professora, quem sofre de intestino preso, pode ser uma ajuda para fazê-lo funcionar. “Acontece também muito da pessoa que tinha algum problema que causava muita dor no corpo, e a dor acabar. Ou o contrário, a pessoa não tinha dor nenhuma, aí ao dançar começa a sentir uma dorzinha, vai ao médico e descobre uma pedra nos rins, ou um mioma no útero”. Segundo ela, pelos movimentos estimularem muito com essa região, o corpo acaba expondo os sinais de um problema que já existia.
Outra característica em quem pratica a dança é o aumento dos hormônios femininos, o que faz da prática indicada para mulheres mais velhas em um período em que os hormônios estão diminuindo. Ou senão, para aquelas que talvez um pouquinho mais de hormônios femininos não fizesse mal. “Eu tinha uma aluna aqui que construía casas e as vendia, então ela lidava com pedreiro, saco de cimento. Eu fui vendo que, com o passar do tempo, ela foi ficando mais feminina, os gestos foram ficando mais delicados, colocando brincos. Ela não usava brinco, não usava batom”, conta Ellen. “Ela brincava comigo: ‘Ellen, você me fez virar mulherzinha’(risos). Ela chegou O e saiu A”, brinca a professora.
Em contrapartida, segundo ela, não é aconselhável para crianças, pois a prática pode acelerar o processo de menstruação das meninas. “Mas mocinhas de 15, 16 a 80 anos podem fazer à vontade”, comenta Ellen.
Profissionais da sensualidade
As dançarinas profissionais têm nomes artísticos árabes para as execuções públicas das coreografias. O de Ellen é Ellen Hanna. Recentemente ministrando um workshop, a dançarina Mahaila El Helwa esteve em Varginha. Ela é a única brasileira ganhadora do maior concurso de dança do ventre que existe no mundo, realizado durante o Festival Ahlan Wa Sahlan, no Egito.
Fora do “Oriente”, Mahaila é Gabriela Nogueira, de São Paulo (SP). Com 27 anos, ela começou a dançar aos 14. “Comecei totalmente amadora, meio que forçada pela minha mãe, que sempre gostou de música árabe e me arrastou um dia pra aula falando: você vai fazer”, conta ela, que logo no início já se apaixonou pela dança e não parou mais. O concurso no Egito que ela venceu em 2005, aos 19 anos, trouxe a popularidade e o reconhecimento. Ela foi escolhida a melhor dançarina do ventre entre 60 meninas de 32 países.
“Nunca tive a pretensão de me tornar profissional, foi acontecendo mesmo”, conta Gabriela. Ela é advogada, com OAB e tudo, nas palavras dela, mas abandonou a profissão para ser dançarina. “A dança e o amor pela arte falou mais alto”, completa. Atualmente, ela começa a decolar em uma carreira internacional, fazendo apresentações e workshops na Argentina, Chile e com pretensões pelo solo europeu.
Gabriela comenta que a dança combina perfeitamente com a cultura brasileira, e que as dançarinas brasileiras são famosas por serem muito boas no que fazem. E pra ela, a tendência é aumentar cada vez mais. “É impressionante como tem gente que faz dança do ventre no Brasil, eu já viajei de Roraima até Porto Alegre e é muita gente que pratica, é um meio que está crescendo cada vez mais”, comenta ela.
Quanto aos desafios de quem quer fazer isso bem e como carreira profissional, não é apenas dominar a técnica da dança, mas tudo que a envolve, sua história e a cultura árabe. “Eu acho que o maior desafio é você captar o sentimento da dança, porque a dança do ventre é algo que tecnicamente é difícil, você começa a mexer partes do corpo que você nunca imaginou que ia mexer antes. E o sentimento é algo que ninguém nunca vai te ensinar. Os professores só podem despertar isso em você", afirma Gabriela.
Para ela, o sentimento que você coloca na prática é o que realmente faz diferença em quem faz bem e quem não faz. "Isso eu acredito que é o mais difícil, que você só vai pegando com a experiência, com o seu tempo de prática, com a sua segurança em relação ao que você está fazendo e ir se aprofundando cada vez mais. O sentimento é o que realmente faz diferença na dança”, finaliza ela.
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