História da Dança do Ventre

O Desenvolvimento da Dança do Ventre

Acredita-se que a dança do ventre tenha tido uma longa história de desenvolvimento no Oriente Médio, mas evidências confiáveis sobre suas origens são escassas e narrativas históricas são muitas vezes altamente especulativas. Várias fontes gregas e romanas descrevem bailarinas da Ásia menor e Espanha usando movimentos ondulantes, tocando castanholas e fazendo movimentos trêmulos com o corpo, descrições que são certamente sugestivas dos movimentos que hoje associamos com a dança do ventre. Por ser uma dança fluida, cuja maioria dos movimentos são naturais ao corpo humano, é provável que tenha tido múltiplas origens à medida que a própria humanidade, a música e a dança foram se desenvolvendo.

Saiba mais detalhes:

Historia Danca do Ventre - Origem e Evolução

Muitas evidências pontam para a existência da dança do ventre no Egito antigo, com muitos aspectos da dança assemelhando-se à dança como a conhecemos hoje. Nos tempos dos faraós, em torno de 5.000AC, havia pinturas nos túmulos representando músicos e dançarinas. A primeira evidência de dança foi encontrada no túmulo de Amon Neb (dinastia XVIII) que foi descoberto em Tebas. Alguns aspectos da dança eram de celebração e alguns de entretenimento. Também havia pinturas de murais dos dançarinos nos santuários neolíticos antigos na cidade Catal Huyuk na Turquia em 6000 AC. Porém, como mencionado anteriormente, o mais provável é que a dança tenha surgido em várias partes e que e tenha ficado registrado apenas nas culturas mais evoluídas na época, capazes de fazer os registros.

Historia Danca do Ventre - Raks Baladi
Mulheres árabes com roupas estilo Raks Baladi, dança tradicional ou folclórica, a dança do povo.Festa Egípcia. Foto tira pelo fotografo japonês Fujiyo Tsunemi em 2017.

Contexto Social

A forma de dança conhecida no Ocidente como a dança do ventre, baseia-se em uma das danças sociais nativas do Oriente Médio. Na Palestina, esta dança social é chamada de Raks Baladi e é realizada por pessoas de todas as idades e ambos os sexos durante ocasiões festivas como casamentos e outros encontros sociais para diversão e celebração. A versão performática, interpretada por dançarinas e dançarinas profissionais é chamado de Raks Sharqi em árabe, e é hoje a forma mais popular no ocidente, principalmente nos Estados Unidos e agora, no Brasil.

No Oriente Médio, meninos e meninas aprendem a dança desde a tenra idade. Tal como acontece com todas as danças sociais, elas aprendem informalmente através da observação e imitação dos mais velhos durante as celebrações de família e da comunidade, bem como durante encontros informais com amigos. Hoje, as aulas de dança oriental árabe são oferecidas em todo o mundo, e dançarinas habilidosas são capazes de compartilhar seus conhecimentos da dança durante workshops e classes de estúdios e escolas.


A origem exata desta forma de dança é ativamente debatida entre as entusiastas de dança do ventre, especialmente devido à limitada quantidade de pesquisa acadêmica sobre o tema. Boa parte da pesquisa nesta área foi feita por dançarinas ao tentar entender suas origens. No entanto, um fato de muitas vezes negligenciado é que dançar no Oriente Médio é um evento que ocorre no contexto social, ao invés do contexto mais visível e glamouroso das dançarinas profissionais em casas de shows, o que conduziu a um mal-entendido geral da verdadeira natureza da dança e tem dado origem a muitas teorias conflitantes sobre suas origens. Além disso, esta dança é uma fusão de vários estilos, o que, sem dúvida, tem muitas origens diferentes, muito enraizadas em danças étnicas.

Em todo oriente médio a dança é o centro dos eventos festivos, principalmente as cerimônias de casamento. É frequentemente feita separadamente para homens e mulheres, mas há casos em que todos estão juntos. Mesmo nesses lugares, são principalmente as mulheres que tomam a iniciativa de começar a dançar. Precisamos entender que a música e dança compõe um dos pilares da cultura árabe, assim como, por exemplo, o idioma, a religião e a alimentação. Não temos nada parecido no ocidente, não nesse nível e abrangência, por isso temos dificuldade de entender. É realmente uma pena a apropriação cultural que fazemos, da maneira que fazemos, com falta de respeito, como tem ocorrido nos últimos 300 anos!

Historia Danca do Ventre - Formação - Baladi
"Raks Baladi", de Fabio Fabbi, foi a pintura que ele fez durante seu tempo no Cairo. A pintura retrata a popular dança folclórica do Egito, que acredita-se ter dominado toda a dança oriental árabe. Durante sua viagem ao Egito em 1886, Fabbi teria testemunhado as mulheres hábeis realizando Raks Baladi como era apreciado em festivais, em casa e nos alojamentos para entretenimento casual.Apresentação de dança do ventre em restaurante da Europa nos dias de hoje. Ainda que a dança tenha evoluído e se distanciado de suas origens e finalidades, ainda hoje se mantem o caráter de entretenimento. Outro aspecto importante que se mantem inalterado: é uma arte que passa de mulher para mulher via tradição oral. É uma chama que tem se mantido acessa por muitas centenas de anos e que passamos umas para as outras.

Finalidades

Muitas bailarinas escolhem uma ou outra teoria sobre a origem da dança do ventre. Uma dessas teorias, como já mencionamos, se baseia na forma de dança descendente das danças do Egito Antigo, dança religiosa praticada por sacerdotisas dos templos durante cerimônias tradicionais de parto. Essa modalidade se espalhou a partir das migrações do povo Romani (não confunda com “Romanos”) também chamados de ciganos, relacionados a grupos com origens na Índia. O fator dos propagadores iniciais da dança do ventre terem sido os ciganos é um fator complicador, pois a própria origem e história dos ciganos é complexa e envolta de mistérios. Muito da sustentação para esta teoria decorre das semelhanças entre poses na arte egípcia e os movimentos dança do ventre moderna que vemos hoje.

A teoria mais conhecida é que ela descende de uma dança religiosa. Esta ideia é normalmente a mais referida nos principais artigos acadêmicos sobre o tema e tem desfrutado de grande publicidade. Na década de 60, a dançarina americana Jamila Salimpour era a principal defensora dessa ideia.

A teoria referente às práticas de parto abrange um subconjunto de movimentos da moderna dança Raqs Sharqi. Fortemente divulgada pela pesquisa da dançarina e antropóloga romena Carolina Varga Dinicu, envolve o retrabalho dos movimentos tradicionalmente utilizados para demonstrar ou facilitar o parto. Embora não apresente de um ponto de origem, esta teoria tem a vantagem de ter inúmeras referências históricas orais e é apoiada pela obra “A Dançarina de Shamanka”.

Já os movimentos frenéticos e acelerados, especialmente dos quadris, tem contribuição das Ouled Nail, da região onde hoje é Argélia. Elas eram mulheres livres que viviam em um sociedade matriarcal cujo cerne cultural e de funcionamento era a dança e atividades sexuais.

Porém, independente do local origem, as finalidades relacionadas às danças precursoras da dança do ventre eram:

Ritual de Fertilidade: As primeiras sacerdotisas do Oriente Médio realizavam a dança na tentativa de garantir a fertilidade de sua população. Os movimentos potencialmente sugestivos e rítmicos foram pensados para inspirar e agradar os deuses para promover a fertilidade na população.

Ritual Social: Realizado publicamente como um meio de entretenimento, a Dança do Ventre foi uma maneira de celebrar durante os festivais ou fornecer uma fonte geral de distração durante o início do povoamento no norte da África e na Mesopotâmia.

Preparação para o Parto: Semelhante ao ritual da fertilidade, alguns acreditam que essas técnicas especiais de dança foram criadas na esperança de ajudar mães no processo de parto.

Ocupação: Alguns especulam que a dança do ventre foi usada desde a sua origem como uma forma de as mulheres arrecadar dinheiro para o seu dote ou sustentar a sua família.

Primeira Onda de Difusão - Os Ciganos

História da dança do ventre - Ciganos
Possível caminho seguido pelos primeiros ciganos saídos da Índia, levando consigo os movimentos de dança que se fundiriam aos já existes no Iraque, Argelia, Turquia e etc. No Egito, deram origem às Ghawazee.

Apesar da dúvida quanto à origem, tudo indica que os ciganos e outros grupos relacionados, devido à forma como eles viajavam, com comportamento nômade, passando por várias regiões, foram de fatos os responsáveis por espalhar a dança oriental árabe. Graças à fusão inicial das formas de dança cigana com o Raqs Sharqi no Ocidente, essa teoria desfruta de grande influência. Porém, isso não é necessariamente refletido em seus países de origem, principalmente devido ao preconceito existente em relação aos ciganos.

Historia Danca do Ventre - Danca Cigana
“Uma Dançarina Cigana”, obra de Adrien Moreau – 1877.Dança do ventre com pandeiro nos dias de hoje. Por Sarah Canbel, CC BY-SA 4.0

A história da dança oriental está entrelaçada com a de ciganos, em seus vários disfarces em cada país que passavam. Veiram da Índia e se espalharam inicialmente por todo o Oriente Médio, chegando na Europa e finalmente parando em Andaluzia. Os ciganos levaram a combinação de ritmos complexos indianos, misturado com os temas melódicos islâmicos.

Talvez o mais antigo registro das migrações de ciganos é registado em Xá Noëmie (ou Livro dos Reis), escrito cerca de 1.000 DC. O poeta persa Firdawsi conta a história de doze mil menestréis itinerantes, o Luri, enviados à Pérsia da Índia cerca de 420 DC, a pedido do Príncipe Sassanide, Bahram Gur, que acreditava que ele deveria iluminar a vida desse povo trabalhador e encantador, ajudando-os a sair da miséria. Ele forneceu a eles grãos e condições de agricultura para eles se sustentarem. Este plano foi, claro, condenado ao fracasso. O Luri usou os suprimentos e não fez nenhuma tentativa na agricultura. Furioso com o desperdício e a má vontade deles, o príncipe mandou todos embora e os condenou a ficar vagando e ganhar a vida com contrabando ou como pedintes. Este conto foi confirmado em 940 DC pelo historiador árabe, Hamza.

Segunda Onda de Difusão - As Invasões Árabes

História da dança do ventre - Expansão Árabe

Foi após a morte do profeta, em 632, que a Arábia foi unificada. A partir desta união, impulsionada pela doutrina religiosa islamita, foi iniciada a expansão do império árabe. Os seguidores do alcorão, livro sagrado, acreditavam que deveriam converter todos ao islamismo através da Guerra Santa. Firmes nesta crença, eles expandiram sua religião ao Iêmen, Pérsia, Síria, Omã, Egito e Palestina. Em 711, dominaram grande parte da península ibérica, espalhando sua cultura pela região da Espanha e Portugal.

Durante o período de conquistas, ampliaram seu conhecimento através da absorção das culturas de outros povos, levando-as adiante a cada nova conquista. Foram eles que espalharam pela Europa grandes nomes como o de Aristóteles e também outros nomes da antiguidade grega. Eles fizeram ainda importantes avanços e descobertas médicas e cientificas que contribuíram com o desenvolvimento do mundo ocidental. Como conquistadores, deixaram marcas culturais, como no campo artístico, literário e musical. A cultura árabe caracterizou-se pela construção de maravilhosos palácios e mesquitas. Destacam-se, nestas construções, os arabescos para ilustração e decoração. A literatura também teve um grande valor, com obras até hoje conhecidas no Ocidente, tais como: As mil e uma noites, As minas do rei Salomão e Ali Babá e os quarenta ladrões. Na música, melhorarem muitos instrumentos e espalharam os elementos da dança oriental. Essa expansão basicamente definiu as fronteiras do mundo árabe.

Seja qual for o ponto de origem ou teoria de migração, a dança do ventre tem o cerne de sua história no Oriente Médio. Apesar das restrições no Islã sobre retratar seres humanos nas pinturas, existem várias representações das dançarinas em todo o mundo islâmico. A arte e a arquitetura do Islã no período de 650 a 1250 mostram imagens das dançarinas nas paredes dos palácios e nas pinturas em geral, como as pinturas em miniatura na Pérsia nos séculos XII e XIII.

Terceira Onda de Difusão - O Orientalismo

Historia da Dança do Ventre - Orientalismo e Colonialismo

Fora do mundo árabe, a dança raqs sharqi foi realmente popularizada durante o movimento romântico nos séculos XVIII e XIX, com artistas orientalistas retratando suas interpretações da vida dos haréns no Império Otomano. Por volta deste tempo, dançarinas de diferentes países do Oriente Médio começaram a exibir tais danças em várias Feiras Mundiais (feiras dedicadas a novidades em geral, principalmente ciência e tecnologia). As dançarinas frequentemente atraiam multidões que rivalizavam com as exposições tecnológicas. Algumas dançarinas dessas feiras foram retratadas em filmes (logo que surgiu essa tecnologia). O curta-metragem “Dança de Fátima”, foi amplamente distribuído em salas de cinema da Nickelodeon. Isso atraiu muitas críticas para a dança e o filme acabou sendo censurado devido à pressão da opinião pública.

O "Orientalismo" deve ser entendido como uma maneira de ver e pensar que imagina, enfatiza, exagera e distorce as diferenças de povos e culturas árabes em comparação com a Europa e os EUA. Muitas vezes, envolve ver a cultura árabe como exótica, atrasada, incivilizada e às vezes perigosa. W. Said, em seu livro inovador, Orientalism, definiu como a aceitação no Ocidente de "a distinção básica entre Oriente e Ocidente como o ponto de partida para elaborar teorias, épicos, romances, descrições sociais e relatos políticos sobre o Oriente, seu povo, costumes, 'mente', destino e assim por diante.”

Historia Danca do Ventre - Orientalismo
"A Favorita", por Adrien Henri Tanoux - 1904. Düsseldorfer Auktionshaus“O Encantador de Serpentes”, por Jean-Léon_Gérôme - 1879. Clark Art Institute, Williamstown.

Segundo Said, o orientalismo data do período do iluminismo europeu e da colonização do mundo árabe. O orientalismo forneceu uma racionalização para o colonialismo europeu baseado em uma história de autosserviço em que "o Ocidente" construiu "o Oriente" como extremamente diferente e inferior, e, portanto, na necessidade de intervenção ocidental ou "resgate". Exemplos de Orientalismo antigo podem ser vistos em pinturas e fotografias europeias e também em imagens da Feira Mundial dos EUA nos séculos XIX e XX. As pinturas, criadas por artistas europeus do século 19 e início do século 20, retratam o mundo árabe como um lugar exótico e misterioso de areia, haréns e dançarinas do ventre, refletindo uma longa história de fantasias orientalistas que continuaram a permear nossa cultura popular contemporânea.

Historicamente, a maioria das danças associadas com dança do ventre era realizada com os gêneros separados; homens com homens e mulheres com mulheres. Existiam algumas representações de dança mista. Esta prática assegurava que uma boa mulher não seria vista dançando por alguém que não fosse seu marido, sua família próxima ou suas amigas. Às vezes uma dançarina profissional ia para as reuniões de mulheres com vários músicos e punham as mulheres para dançar. Hoje, a segregação de sexo não é tão estritamente praticada em muitas áreas urbanas e às vezes ambos, os homens e as mulheres, se levantam e dançam socialmente entre amigos íntimos em uma festa mista. No entanto, enquanto dança social durante circunstâncias como funções familiares é aceita e até encorajada, há muitas pessoas nas sociedades do norte de África e Oriente Médio que consideram as performances de bailarinas profissionais em trajes reveladores para o público misto como moralmente censuráveis. Alguns têm chegado ao ponto de sugerir que tais performances sejam banidas.

Garota Egípcia na Rua do Cairo

“Garota Egípcia na Rua do Cairo”, 1983, Feira Mundial de Chicago. Northern Illinois University.

A França colonizou a Argélia de 1830 a 1962. De aproximadamente 1900 a 1930, empresários franceses produziram cartões postais de mulheres argelinas que circulavam na França. Enquanto as mulheres argelinas são retratadas nessas fotos como se a câmera estivesse capturando um momento real em suas vidas cotidianas, as mulheres são realmente criadas no estúdio do fotógrafo. Conforme demonstrado no livro de Malek Alloula, The Colonial Harem, essas fotografias foram divulgadas como evidência dos costumes exóticos, atrasados ​​e estranhos dos argelinos, quando, na verdade, revelam mais sobre a perspectiva colonial francesa do que sobre a vida argelina no início dos anos 1900. Este é um exemplo de como as mulheres árabes foram exotizadas e erotizadas para o prazer do voyeur europeu masculino, pois essas fotografias tornam visíveis as fantasias coloniais francesas de adentrar no harém e ter acesso aos espaços privados das mulheres árabes.

As Feiras do Mundo em Chicago (1893) e St. Louis (1904) ajudaram a reforçar o imaginário orientalista nos Estados Unidos. O cruzamento do europeu para o Orientalismo dos EUA pode ser visto nas imagens do livro fotográfico de James Buel, que catalogou a Feira Mundial de 1893 em Chicago. Esta publicação inclui fotografias de ruas árabes recriadas, acompanhadas de legendas que captam o pensamento orientalista da época. Por exemplo, a legenda que acompanha a imagem “Garota egípcia na rua do Cairo” refere-se às “maneiras peculiares dos egípcios” e seu “disfarce feio”. Além de ser escrita como um objeto em exposição, suas características são descritas como pertencente a uma cultura atrasada:

“Garota Egípcia na Rua do Cairo - Em todos os países onde o Moçulmanismo [sic] prevalece, é comum as mulheres usarem um véu sobre a metade inferior do rosto quando aparecem na rua. O costume não é tão rigidamente observado como antes, e na Índia quase desapareceu completamente. Entre os persas e os egípcios, no entanto, ainda é um geral proativo, e sem dúvida continuará, pois nesses séculos a imigração de estrangeiros não conseguiu influenciar os costumes dos nativos. Na rua do Cairo, na Feira Mundial, eram exibidas as maneiras peculiares dos egípcios, e uma dama velada era, evidentemente, um dos objetos curiosos exibidos, embora nem sempre aparecesse naquele disfarce feio, provando assim que ela não era escrava desta exigência de todas as mulheres de Mohamodan [sic] ”. Buel, James W. A Cidade Mágica. St. Louis: Historical Publishing Co., 1894.

Mata Hari em 1906. Nome completo: Margaretha Gertruida Zelle. Dançarina e cortesã. Foto por autor desconhecido. Ruth St. Denis em 1910 fotografada por Otto Sarony. Ruth St. Denis começou a investigar a dança oriental depois de ver uma imagem da deusa egípcia Ísis em um anúncio de cigarro.

Porém, mesmo com essa representação exagerada e distorcida, algumas mulheres ocidentais começaram a aprender e imitar as danças do Oriente Médio, que, neste momento, estava sujeita a colonização por países europeus. E os europeus nesta época não estavam muito preocupados em respeitar as fronteiras territoriais. Mata Hari é um bom exemplo sobre as questões em torno dessa atividade na época. Apesar de se apresentar como uma dançarina javanesa, sua mística está erroneamente vinculada não com a dança da Indonésia, mas com as formas de dança do Oriente Médio. Além disso, a autora francesa Colette e muitas outras artistas engajadas em danças orientais passavam suas próprias interpretações como se fossem estilos folclóricos autênticos. A grande dançarina Ruth St. Denis também estava envolvida no meio da dança oriental, porém sua abordagem foi colocar a dança oriental no palco no contexto do ballet, com o objetivo de levantar a dança do ventre a uma forma de arte respeitável. No início de 1900, foi uma suposição social comum na América e Europa que dançarinas em geral eram mulheres de moral duvidosa. Toda essa situação descrita acima serve para mostrar como a dança do ventre praticada na Europa e América foi se distanciando de suas características originais.

Quarta Onda de Difusão - A Era Dourada

A dança do ventre tal como a conhecemos hoje é fruti direto do período conhecido com "Era Dorada da Dança do Ventre Egípcia" ou simplesmente " Belly dance Golden Age". Nesse período o local mais popular para a dança continuava a ser clubes noturnos e casas de shows, porém devido a crescente proliferação de filmes e gravações de celebridades populares da dança egípcia, esta se tornou a versão mais popular dança do ventre no ocidente, ao invés do folclore ou versões sociais da dança. O traje agora associado com dança do ventre é chamado bedlah em árabe (uniforme) e foi adotado por bailarinas no Egito na década de 1930, de onde ele se espalhou para outros países da região. Deve sua criação à fantasia orientalista sobre os haréns nas produções de Vaudville, Burlesque e Hollywood durante a virada do século passado, ao invés do real e autêntico vestido do Oriente Médio. Foi Badia Masabni quem adotou esse estilo de traje que vemos hoje, devido ao fato de que esta era a imagem que os turistas ocidentais esperavam, em vez dos trajes nativos que cobriam e escondiam os contornos do corpo, com apenas um lenço ou cinto amarrado em torno dos quadris para destacar os movimentos.

Historia Dança do Ventre - Badia Masabni
Badia Masabni, nascida Wadiha Masabni (1892-1974), foi uma atriz e dançarina do ventre nascida de um pai libanês e uma mãe síria, mais conhecida por abrir uma série de clubes influentes no Cairo desde a década de 1920 em diante. Badia é considerada a matrona da dança do ventre moderna e é creditada com o lançamento das carreiras de estrelas egípcias da dança do ventre Samia Gamal e Taheyya Kariokka. O Cairo Opera Casino, inaugurado em 1940, continua sendo ainda hoje um grande palco para as estrelas da dança do ventre do mundo todo.

A Idade de Ouro da dança do ventre começou em 1926, quando uma dançarina síria conhecida pelo nome de Badia Masabni abriu o primeiro cabaré de estilo europeu nas margens do Nilo, dando início ao que a levaria criar o Cairo Opera Casino em 1940. Essa mulher teimosa, sozinha, transformou a dança sha'abi das ghawazee nessa linda “borboleta flutuante” que agora conhecemos como "al raqs sharqi". As mulheres que se seguiram foram artistas de cabaré únicas do século passado que brilhavam entre as inúmeras mulheres que faziam a dança no Oriente Médio. O estilo da Era Dourada da dança oriental egípcia foi popularizado nos filmes feitos no Cairo, que era a Hollywood do Oriente Médio e durou até o início da década de 60. Foi durante a Era de Ouro que a dança egípcia começou a transitar do estilo baladi tradicional para a forma de raqs sharqi que conhecemos hoje. As décadas de 70, 80 e 90 foram também inflenciadas pela "Era Dourada".

A quarta onda de difusão e propagação da dança do ventre deve ser entendida como um duo, com cada polo alimentando um ao outro em um processo ascedente de criação e benefício mútuo. De um lado havia o Casino Opera com suas estrelas e glamour. Do outro, as produtoras de TV e cinema criando filmes com enredo árabe e bebendo da fonte orientalista. Acontece que Badia Masadni produzia espetáculos para atender o gosto dos estrangeiros, que chegavam ao Egito ávidos para vivenciar o que eles haviam vistos na TV e no cinema. Ao mesmo tempo, as produtoras de cinema importavam as novidades vindas do Egito, incorporando-as em suas obras. Tanto, que muitas das grandes bailarinas egípcias desse período estrelaram em filmes.

Samia Gamal, nascida Zeinab Ali Khalil Ibrahim Mahfouz (1924 – 1994), foi uma grande dançarina egípcia da Era Dourada e que é um ícone da dança do ventre no mundo inteiro. Samia estrelou diversos filmes, chegando até a ser reconhecida em outros países, como nos Estados Unidos.

As bases do figurino moderno incluem um top ou sutiã, geralmente com franja de grânulos, cristais ou moedas; um cinto para o quadril equipado novamente com uma franja de grânulos, cristais ou moedas; pernas cobertas que incluem saias de andor de calças harém (em linha reta, em camadas, circulares ou painéis). Um véu também pode ser utilizado. Este tem em média dois metros de tecido é usado em parte da dança para a dançarina mover-se pelo palco e para destacar alguns movimentos da bailarina. Na década de 1940, o rei Farouk do Egito empregou o instrutor de balé russo Ivanova para ensinar suas filhas, e foi uma delas quem primeiro ensinou a grande dançarina Samia Gamal a usar o véu para melhorar sua postura de braço. A maioria das dançarinas egípcias usa o véu como um adereço de abertura que elas descartam nos primeiros minutos de suas performances, enquanto muitos dançarinos ocidentais usam o véu durante uma música inteira. No Egito, dançarinas de casas de show também usam vestidos frisados completos, chamados vestidos baladi, para fazer as performances folclóricas. Esses tipos de roupas também são usados pelas dançarinas ocidentais ao executar danças folclóricas como a dança da bengala ou a dança do candelabro.

Historia Danca do Ventre - Danca Hoje
Bailarinas de dança do ventre nos dias de hoje: desfrutamos um amalgama de mais de 5 mil anos de história, num processo de miscigenação de culturas e evolução.

A maioria dos passos básicos e técnicas usadas na dança do ventre são movimentos circulares isolados em uma parte do corpo; por exemplo, um círculo paralelo ao chão isolado nos quadris ou ombros. Movimentos acentuados e paradas, quando uma dançarina faz o “shimmie” ou faz um movimento marcante em seus ombros ou quadris são comuns. Também são comuns as ondulações músculos da barriga e o uso de vários adereços como cestas, espadas, bastões, véus de seda, dentre outros.

Apesar de seu nome ocidental "dança do ventre", Raqs Sharqi usa movimentos de todos os grupos musculares do corpo. É, fundamentalmente, uma dança de improvisação, de solo, com seu próprio vocabulário, uma dança única, com fluidez integrada ao ritmo da música. Dançarinas de Raqs Sharqi interiorizam e expressam as emoções evocadas pela música. Apropriadamente, a música é parte integrante da dança. As dançarinas de Raqs Sharqi mais admiradas são aquelas que melhor podem projetar suas emoções através da dança, mesmo que sua dança seja composta de movimentos simples. O objetivo da bailarina é comunicar visualmente para o público a emoção e o ritmo da música. Isto é especialmente evidente durante a parte de solo de derbaque durante de uma performance.

Muitos veem Raqs Sharqi como uma dança da mulher, celebrando a sensualidade e o poder de ser mulher. Uma escola de pensamento comum acredita que jovens bailarinas têm limitada experiência de vida para usar como um catalisador para a dança. É necessário citar que Sohair Zaki, Fifi Abdou, Lucy e Dina são todas famosas bailarinas egípcias que mantiveram-se no ápice da populariade com idades acima de 40. Além disso, apesar da fama das dançarinas, homens frequentemente executam Raqs Sharqi também.

Dança do Ventre Egípcia

Dança do ventre egípcia estava entre os primeiros estilos a ser testemunhado pelos ocidentais. Durante a invasão do Egito por Napoleão (a campanha que rendeu a pedra de Roseta, levando à tradução dos hieróglifos egípcios), as tropas napoleônicas encontraram a tribo Ghawazee. Os Ghawazees fizeram a vida como artistas profissionais e músicos. As mulheres muitas vezes estavam envolvidas em prostituição. No início, os franceses tiveram repulsa por suas pesadas joias e cabelos, e achavam sua dança coisa de bárbaro, mas logo foram atraídos pela natureza hipnótica de seus movimentos.

Historia Danca do Ventre - Tahia Carioca
Taheyya Kariokka ou Tahia Carioca, nascida como Badaweya Mohamed Kareem Al Nirani (1915-1999) foi também grande dançarina egípcia da Era Dourada.O nome Carioca foi em função de seu derbakista misturar sons árabes aos sons brasileiros, os quais a bailarina muito apreciava. Tahia Carioca dançava com delicadeza e graciosidade, utilizando passos pequenos, sem as marcações fortes que estamos acostumadas a ver nas bailarinas modernas. Participou em mais de 120 filmes

A dança do ventre no estilo egípcio baseia-se na obra das lendas Samia Gamal, Tahiya Karioka, Naima Akef e outras dançarinas que alcançaram a fama durante os anos dourados do cinema egípcio. A geração seguinte de dançarinas que se basearam parcialmente seus estilos de danças destas artistas são Sohair Zaki, Fifi Abdou e Nagwa Fouad. Estas chegaram à fama entre 1960 e 1980, sendo ainda são populares hoje em dia, tendo atingido o mesmo nível de estrelato e influência sobre o estilo que as precursoras.

Embora os movimentos básicos de Raqs Sharqi permaneçam os mesmos, a forma de dança continua a evoluir. Mahmoud Reda é conhecido por incorporar elementos de balé no Raqs Sharqi e sua influência pode ser vista nas modernas dançarinas egípcias que ficam nas pontas dos pés enquanto giram ou exploram seu espaço de dança em movimentos de círculo ou fazendo a figura de um oito.

Hoje, o Egito é muitas vezes considerado o berço da dança do ventre. A dança do ventre egípcia tem dois estilos principais - raqs baladi e raqs sharqi. Há também numerosas danças folclóricas e de representação que podem ser parte do repertório de bailarinas do estilo egípcio, assim como a dança de rua shaabi moderno, que compartilha alguns elementos com raqs baladi.


A dança oriental egípcia normalmente tem um sentimento internalizado, um sentimento contido, em comparação com outros estilos. É uma dança muito relaxante. Historicamente, as artistas de dança públicas no Egito eram conhecidas como Ghawazi. As irmãs Maazin podem ser as últimas artistas autênticas da dança Ghawazi no Egito. Khayreyya Maazin foi a última dessas dançarinas (em 2009 ela ainda ensinava). As formas não egípcias mais importantes da dança do ventre são a síria, libanesa e a turca.


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